És matéria, como sou
Da mesma matéria que és
Que dessa massa emergem conflitos
Dos labirintos por onde o tempo nos leva
Já te injuriei, hoje não o faço
E fui por ti jurado
Mas te vi chorar ao me ver num circuito de dor
Sei que era por amor
Fechei os olhos e fingi estar dormindo
Pensei que não existisse tal fraqueza
Não me decepcionei
Pois sou da mesma massa
Também fraquejo e choro
Queria tanto você e a rainha numa pessoa
que nem sempre víamos
Prantos foram derramados por esse desejo inerte
súplicas a Deus levantadas
Ah, meu querido velho
Depois de tanto tempo do meu natal
me provocas um forte amor por ti
tão grande como o pranto em que te vi
Caminhas lentamente em busca de tua fé, de um milagre
Saibas que aprendi contigo
muito do que tenho e sou
só fui tolo em resistir e ver isso
Da massa que tenho, tenho-a em ti
E agora, não te desconjuro
não tenho mais tempo nem idade pra isso
senão, para conhecer-te mais
Foi este estorvo que trazes
que me fez suplicar a Deus
por nosso afeto e nossas vidas
Olho para ti e me vejo
Dói ver minha massa amassada
Por algo que, se pudesse, arrancaria de ti
Mas, meu velho, o que dizer?
Somos massa de Deus
Ele sabe o que será
Essa é nossa conciliação
A prova da nossa aliança
Tudo que não entendia
se esclarece agora
eu paro no tempo pra fugir
mas também celebrar a vida e a Deus
que te fez e, te marcando, mexe conosco, nos inquieta
Voltas a ser uma criança
na qual me reconheço
e em parte desejo sê-la
Tempo feroz que não para
Deixa meu velho, eu paro
e ajoelho-me diante de ti, do teu sofrimento
para ver-te um herói
que errou muito, e acertou também
Nessa massa da qual saímos
a força que tinhas se dobra em mim
para dizer-te o que já me disseste timidamente
Amo-te, meu velho
Nesse estorvo parece está essa cura de nós
a maravilha do afeto de nossa casa.
Ao meu pai.
Anglebson Barros da Silva – setembro 2008